Cuia Furada

É hábito aqui no meu Rio Grande do Sul apreciar um bom chimarrão. O mateador regular, toma seu mate pelo menos uma vez por dia. Seleciona uma erva-mate com boa procedência, uma bomba que hoje quase sempre é de inox mas que já foi de vários materiais, inclusive ouro e prata. E a cuia, também muito bem escolhida, desde a colheita do porongo até o acabamento quando será usada para cevar o chimarrão.

A água, quente como um chá ou cafezinho, completa o rito, que nos seus primórdios era servido de uma chaleira, mas com o tempo e o avanço tecnológico foi substituída pela garrafa térmica, conservando a água na temperatura certa e prolongando o sabor do chimarrão por muito mais tempo.

Contudo, como qualquer recipiente, até a cuia tem prazo de validade. E eventualmente uma cuia acaba furando. Muitas pessoas reaproveitam cuias furadas como pequenos vasos de flores, normalmente cultivando violetas e flores do gênero.

Uma das coisas mais desagradáveis que pode ocorrer é cevarmos um chimarrão numa cuia furada sem saber que ela estava furada. Como o chimarrão é uma bebida compartilhada entre as pessoas no que chamamos de "roda de chimarrão", é comum degustarmos a bebida confortavelmente alojados num ambiente de estar das residências, no quarto mesmo, assistindo um bom filme à dois, e até mesmo em reuniões importantes de negócios, no escritório, e na igreja que frequentei por último em Porto Alegre, era comum tomar chimarrão durante os cultos e reuniões de estudo bíblico. Ou seja, sempre se toma cuidado para não derramarmos água ou até erva-mate, afinal o equilíbrio com a cuia faz parte do ritual.

Assim sendo, o problema da cuia furada é que ela causará muita sujeira e dependendo do lugar ou vestuário, até danos em aparelhos ou queimaduras. Logo, aquilo que deveria ser algo bom, passa a ser algo desastroso.

Compreendendo essa característica e toda a mística do chimarrão, posso compartilhar com meus leitores não-gaúchos uma frase que ouvi de dois anciãos que papeavam tomando seu mate no banco de uma praça:

-Pessoa fofoqueira é como uma cuia furada. O que era pra ser bom vira numa lambança! Mas tudo se resolve se a pessoa tiver o mesmo destino da cuia. Nunca mais servir chimarrão, afinal, uma cuia não é tão cara pra que se precise tapar o furo.

-Pois é. Mas a pessoa pode se consertar, mudar, deixar de fazer isso.

-Claro que pode! Mas eu não preciso mais ficar contando nada pra uma pessoa que vazou tudo! O mundo gira!

-Verdade, verdade...

Então, aproveitando a sabedoria dos gaudérios do passado, vamos tomar cuidado com as cuias furadas...

Juliano G. Leal
MARP/MRM

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