A Consumação dos Séculos

Introdução

Muito tem sido dito, explicado, conjeturado e não pouco confundido e mal interpretado a respeito das profecias bíblicas sobre o fim dos tempos, ou como Jesus e os discípulos preferiam A Consumação dos Séculos.

Este estudo não pretende ser mais uma interpretação, tampouco algo definitivo e dogmático. O objetivo é destacar os princípios, expor o que é realmente importante na mensagem profética se afastando o máximo possível das discussões teológicas e filosóficas que rondam (e às vezes até assombram) o tema.

Jesus disse que as crianças possuíam o Reino e que deveríamos nos tornar como elas para nele entrarmos. A Palavra deixa claro que através da ministração do espírito de Deus “nem o cego e nem o louco errariam o caminho”, assim se você esta lendo este estudo, logo não é cego. E se esta entendendo clara e facilmente e se sente apto para dialogar racionalmente sobre isso com outros irmãos, é bem provável que não seja louco. E se ainda assim este assunto permanece um mistério pra você, algo complicado e mirabolante que, como ouvi certa vez, “só quem já fez seminário entende”, vamos concordar: tem algo errado por aí.

Relaxe, jogue fora o fermento dos fariseus e dos saduceus, ponha baixinho suas músicas preferidas, pegue uns biscoitinhos e um refresco e vamos mergulhar numa explicação incontestável sobre este assunto: as palavras de Deus, em Pessoa.

Todo aquele que Nele crê, não será confundido”.

O Contexto

Não se deixem enganar

Curioso e ao mesmo tempo esclarecedor, é o início da explicação de Jesus sobre o nosso assunto. Acompanhando a narrativa de Mateus, um pouco antes de esse assunto vir à tona no cap. 24, vemos lições práticas nas atitudes e respostas de Jesus principalmente a partir do cap. 19, onde se percebe uma virada nelas, que deixam a retórica sutil e diminuem as parábolas, para serem incisivas e diretas, cortantes e sem rodeios. Em outro trecho, nos caps. 16 e 17, vemos os discípulos sendo confrontados, deixando o Rabi, o Profeta e recebendo o Messias, o Rei.

Na transfiguração, um lampejo da glória de Deus os faz cair prostrados com rosto em terra. Antes, ao cruzar o lago, ao se encontrarem com os estudiosos e serem alertados sobre “o fermento”, Jesus os exorta num molde bem conhecido: “Porque vocês estão discutindo pão? Vocês não lembram dos 5.000, dos cestos cheios?” (Cf. Is. 40:12-31). Eis aqui uma chave no discurso de Jesus. Exatamente da mesma forma que a Revelação veio aos profetas, Ela estava se manifestando agora aos discípulos, e mesmo que a intensidade ou a ênfase do discurso mude, a essência permanece a mesma e o objetivo também.

Acompanhando esse crescendo, chegamos ao cap. 23 onde os podres da hierocracia judaica são despejados como uma bebida suja, não para expor os sacerdotes, fariseus e saduceus ao ridículo, mas para trazê-los ao nível do povo, dos humanos comuns, dos gentios e dos pecadores destituídos da glória de Deus.

Então, chega o momento da lamentação do Senhor sobre Jerusalém. Mais um trecho que parece ter saído direto do Antigo Testamento (Cf. Is. 22, Sl. 118). É o próprio Javé (IHWH) dizendo que tentou reunir, abraçar e proteger o povo de Jerusalém, mas que eles não deixaram. Aí vem a profecia: “Jamais vão me ver de novo até que digam ‘Bendito é o que vem no Nome do Senhor’”. Em seguida, eles vêem as obras do templo e Jesus diz que não sobrará pedra sobre pedra. O pano de fundo está pronto. A mensagem se desenha na mente dos discípulos. Depois de tudo que eles viram, todas as profecias fizeram sentido, então eles perguntaram destemidamente: “Qual será o sinal da vinda do Teu Reino (ou da Tua vinda) e da consumação dos séculos?”. Os discípulos viam esses eventos entrelaçados. E tinham razão. Mas o que você precisa gravar antes de prosseguirmos com o estudo é a primeira frase de Jesus ao começar a respondê-los. Ela é o segredo para entendermos tudo que aconteceu de lá até aqui nesse assunto: “Não se deixem enganar”.

Uma explanação acadêmica

Aprendemos desde cedo na escola que um bom texto deve ter introdução, desenvolvimento e conclusão. Aos poucos vamos aprendendo a trabalhar tópicos, melhorar as idéias e enxugar o texto, tudo isso visando clareza no que queremos dizer.

Desde que houve escrita, os textos (mesmo os mais rudes) sempre seguiram essa noção estrutural básica, e a Bíblia não é exceção, é na verdade um dos melhores textos já elaborados e é notável pela coesão contextual, apesar de ter sido escrita em épocas diferentes por mais de quarenta autores.

O discurso de Jesus no cap. 24 de Mateus é uma obra prima quando observado desse ponto de vista. É uma explanação acadêmica digna dos melhores púlpitos e cátedras. Assim sendo, não deveria ser tão difícil entendê-lo, considerando que o “acadêmico” em questão, tal como os hodiernos, com certeza levou em conta o perfil da audiência, e ciente do valor transcendental da sua mensagem, adaptou-a a esta audiência facilitando o seu entendimento. A audiência era composta basicamente de:

Judeus provenientes dos mais diversos ambientes.

Transeuntes curiosos, a maioria deles não-judeus, (dentre os quais se destacavam árabes e gregos) que ficavam espreitando.

Sentinelas romanos que iam ouvir de qualquer jeito, pois tinham ordens para vigiar de perto os ajuntamentos e evitar tumultos, além de denunciar e prender agitadores.

Como o texto diz que os discípulos o chamaram em particular, provavelmente acharam que alguém dessa audiência não deveria ouvir o que seria dito. Vemos que Jesus simplesmente começa a responder, e sinceramente, não sei dizer se Ele queria ficar em particular e não os repreendeu como das outras vezes ou se achou que aquela era a hora mesmo e foi falando sem se importar com a ocasião, e naturalmente acabou falando para um aglomerado bem maior.

Fato é que o sermão é repleto de imagens familiares a quem tem uma origem judaica, mas a maioria dessas imagens já havia sido explicada ou aludida anteriormente pelo próprio Jesus.

Outro detalhe que parece ser completamente ignorado pelos interpretes da Escritura é que pessoas se relacionam, e se alguém tivesse alguma dúvida sobre o quê o Profeta judeu estava dizendo perguntaria ao judeu mais próximo e estaria resolvido o problema.

Devido ao profundo sentimento racista existente dentro do Cristianismo desde o Concílio de Nicéia, o Cisma e a romanização do Cristianismo desde Constantino, houve um movimento paulatino e silencioso por uma (diga-se impossível) desjudaização do Cristianismo. Isso provocou o inicio da maioria dos erros crassos e absurdos na interpretação da escritura, especialmente dos textos proféticos.

Agravado pela Inquisição Católica, pelo Nazi-Facismo e hoje pelo Islamismo, o racismo fez os Sermões de Jesus ficarem deslocados e difíceis de entender, principalmente por alterações propositais do texto e traduções tendenciosas da escritura para satisfazer primeiro os interesses da “Santa” Sé, os genocidas religiosos e depois dos genocidas políticos (Nazis). Hoje temos uma síntese maligna desses sistemas no Islã.

Como se isso tudo não bastasse, o movimento científico profundamente influenciado pelo pensamento racionalista e materialista, serviu de argumento para o Comunismo banir a Bíblia do alcance de várias pessoas e ainda profanar os seus ensinos nos territórios que dominou.

Assim chegamos ao século XXI quase ignorantes de tudo que poderia significar a excelente e simples explanação de Jesus. Mas só quase.

O zelo do Senhor dos Exércitos

Jesus disse que as portas do Hades não prevaleceriam contra a Igreja que Ele edificaria. Ele edificou essa Igreja em três dias como havia dito. Com a sua ressurreição, Ele fez Igreja, Templo e Corpo Seu, todo o que Nele crer. E Hades não ilustrava propriamente o inferno e o diabo, e sim o lugar que acolhia os mortos, ou seja, a Igreja não morreria jamais. E estando viva, certamente venceria o diabo.

Lemos também em Isaías 9:7: “Sua majestade crescerá sem parar, e no aumentar desse Reino virá paz sem fim. Ele se assentará sobre o trono de Davi e reinará em justiça e retidão desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.”

Para um judeu essa profecia fala do Messias que ainda virá. No momento que admitimos que Jesus é o Messias, ele já assumiu o trono de Davi, ou seja, Ele é o Rei de Israel. Esse Rei e este Reino seriam a manifestação do Reino de Deus sobre toda a terra. Os discípulos, bem como todos os judeus, esperavam uma revolução do sistema diante de si, com a deposição de Roma e tudo mais. Com o sermão profético, Jesus responde essa e todas as demais questões concernentes ao Seu Reino, e estabelece que a partir da implementação do Reino, como profetizado por Isaías, seria desencadeado um processo que culminaria na consumação dos séculos e tornaria possível o governo messiânico desejado. Um Reino eterno, de paz sem fim.

Mas essa mensagem só se tornou novamente conhecida porque o mesmo zelo do Senhor que possibilitou que a Galiléia das Nações visse a grande luz, estendeu essa luz a todas as nações. Ainda por Isaías, Deus diz que de Sião viria a Lei e o ensino (Cf. 2:3), e Israel com e a partir do Messias, seria uma luz para as nações, anunciando o Reino aos gentios (caps. 42, 49 e 60), e Jesus confirma a profecia dizendo à samaritana que a Salvação vem dos judeus. Além disso, todos que anunciaram as boas novas desde João Batista, eram judeus pregando aos judeus que, tendo recebido a fé, se tornaram Igreja e a anunciaram aos gentios, começando de Jerusalém. E em uma outra profecia, lemos de um ramo judeu chamado de “remanescente fiel”:

  • Sofonias 3:20 (ler a partir do 13)
    "Naquele tempo vos farei voltar, naquele tempo vos recolherei; certamente farei de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra, quando fizer voltar os vossos cativos diante dos vossos olhos, diz o Senhor."

  • Isaías 10:20-22
    "E acontecerá naquele dia que os restantes de Israel, e os que tiverem escapado da casa de Jacó, nunca mais se estribarão sobre aquele que os feriu; antes estribar-se-ão verdadeiramente sobre o Senhor, o Santo de Israel. Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó. Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá
    [e sobreviverá]; uma destruição [total e completa] está determinada (decidida e trazida à tona), transbordando em justiça [a imposição da punição justa]."

  • Isaías 11:11-16
    "E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir
    (restaurar e libertar) outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã [na Pérsia] , e de Sinar [Babilônia], e de Hamate [no norte da Síria], e das ilhas do mar [Mediterrâneo]. E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra. E afastar-se-á a inveja de Efraim, e os adversários de Judá serão desarraigados; Efraim não invejará a Judá, e Judá não oprimirá a Efraim. Antes [com suas forças unidas, Judá e Efraim] voarão sobre os ombros [da terra íngreme] dos filisteus ao ocidente; juntos despojarão aos [árabes] do oriente; em Edom e Moabe porão as suas mãos, e os filhos de Amom lhes obedecerão. E o Senhor destruirá totalmente (destruirá sem deixar vestígios e secará por completo) a língua do mar do Egito [a região oeste do mar Vermelho], e moverá a sua mão [poderosa] contra o rio [Nilo] com a força do seu vento e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete correntes e fará que por ele passem com sapatos secos. E haverá caminho plano para o remanescente do seu povo, que for deixado da Assíria, como sucedeu a Israel no dia em que subiu da terra do Egito."

  • Isaías 51:11
    "
    [Assim diz o Senhor:] Assim voltarão os resgatados do Senhor, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão."

  • Isaías 52:8
    "Eis a voz dos teus atalaias! Eles alçam a voz, juntamente exultam; porque olho a olho verão, quando o Senhor fizer Sião voltar."

O remanescente jamais se afastaria da verdade divina, não se misturaria com falsos deuses, reconheceria o Messias e trabalharia por Ele.

Em suma, uma Igreja com uma doutrina pura, com pouco ou nada das imundícies que emporcalharam o mundo nos últimos dois mil anos.

É graças a esse remanescente continuar obedecendo ao chamado de ser luz para as nações até hoje, que podemos entender a perfeição das palavras de Jesus. Sem esses judeus messiânicos não haveria o “quase”. O zelo do Senhor dos Exércitos fez isso.

A Mensagem

O Resumo introdutório

Do vs. 1 até 14 do cap.24 de Mateus, Jesus faz uma espécie de resumo de tudo que vai ser explicado em seu sermão, ou seja, ele diz o quê vai acontecer, e mais, o diz de forma genérica. A profecia da destruição do Templo é quase uma provocação que os discípulos aceitam para começar o assunto. Dado interessante e inusitado é que até hoje, todos os judeus lembram no feriado de Tisha B’Av (Nove de Av, data da destruição do Templo no calendário hebreu) um acontecimento profetizado por Jesus. O sermão propriamente dito começa no vs. 4 com o aviso áureo “não se deixem enganar”, e apresenta basicamente cinco tópicos que serão aprofundados a partir do vs. 15, quais sejam:

  1. Conflitos internacionais;

  2. Falsos messias e falsos profetas;

  3. Fomes e terremotos (catástrofes);

  4. Perseguição, apostasia e traição dentro da Igreja;

  5. Pregação do evangelho em toda a terra e promessa de salvação para o remanescente fiel da Igreja.

A Abominação Desoladora

Iniciando suas explanações, Jesus cita uma profecia de Daniel. E aqui ocorre um milagre que quase ninguém vê. Jesus dá a audiência a capacidade de entender a profecia. “Quem lê, entenda!”. A partir daquele momento, qualquer dúvida seria sanada pela ministração do Espírito Santo. Jesus estava curando o entendimento da sua audiência e cumprindo a profecia de Jeremias: “Escreverei meus mandamentos em suas mentes...”. Ao lermos a respectiva profecia em Daniel 9, vemos as 490 semanas que muitos estudiosos calcularam (desnecessariamente) para concluir o óbvio, que já fora interpretado na própria Bíblia. A Abominação Desoladora foi posta no Lugar Santo em 168 a.C. por Antíoco IV Epífanes, e ele de fato o fez (I Mac. 1:54-61). Também mandou parar o sacrifício, proibiu a circuncisão, e uma série de outras violências e atrocidades, que podem ser lidas uma por uma em I e II Macabeus. Daí surgiu um nó difícil de desatar para a maioria dos teólogos. Se essa profecia já tinha se cumprido, porque raios Jesus falou nela? A resposta é estupidamente simples: Jesus estava falando de uma nova situação que traria em si os mesmos elementos de Daniel e Macabeus com alguns acréscimos que ele mesmo não demorou em ilustrar, facilitando o entendimento do sermão com uma imagem conhecida. Palmas para a concisão de Jesus.

Eu queria ser conciso como Ele, mas correria o sério risco de não me entenderem...

Messias: verdadeiro X falso

Jesus segue usando imagens da história “recente” dos judeus e fala de falsos Messias. Muitos heróis já tinham surgido tentando “salvar o seu povo” e foram esmagados pelos opressores levando consigo grande parte de seus seguidores. Jesus sabia que após sua ascensão os discípulos seriam perseguidos, mas que ao contrário dos outros “messias”, não seriam esmagados. O poder do Espírito de Deus fez a Igreja crescer cada vez mais, mesmo em meio às perseguições. Por volta do século II d.C., um judeu revolucionário se intitulou Bar Chochbah (Ch=h em house), filho da estrela, em alusão ao texto messiânico de Nm. 24:17 que diz que “uma estrela procederá de Jacó... e destruirá os filhos do tumulto.”; tentou recrutar adeptos entre todos as camadas judaicas, inclusive entre os cristãos. Jesus acertou em cheio, pois este falso messias foi só o primeiro de muitos.

Já o verdadeiro, o Rei Jesus em sua segunda vinda, apresentará características distintivas bem marcantes, quais sejam:

  1. Será depois da tribulação descrita por Jesus.

  2. Haverá um juízo sobre os falsos cultos e a falsa religião.

  3. Haverá sinais na natureza.

  4. Aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem.

  5. Será testemunhado por toda a humanidade.

  6. Será incrivelmente visível (luz) e barulhento (som).

  7. Será diferente de tudo que já houve, pois haverá uma manifestação angelical global que recolherá os escolhidos do Senhor como oficiais militares organizando a tropa com apitos. Só que os apitos deles serão trombetas.

  8. A partir desse momento a porta da salvação estará fechada. Quem não escolheu o Cordeiro, vai ter que encarar o Leão, e ir morar com o dragão.

No exato instante que Jesus proferiu as palavras da profecia e pontuou as características do messias verdadeiro, ao mesmo tempo alertando e afirmando que viriam falsos messias e falsos profetas, Ele jogou areia nos planos de alguém, que não tardou em planejar complicados sistemas de idéias e conceitos para enganar, se possível, os próprios eleitos.

Em vários episódios da historia, vemos ou percebemos a interferência pessoal de Deus em momentos drásticos. Essa força de reação, esta reproduzida em toda a criação Dele, e reconhecemos isso como instinto de sobrevivência ou de autopreservação.

O Inimigo é um anjo, uma criatura de Deus, que se rebelou. Ele é igualmente dotado desse instinto, e ouviu sua sentença nas palavras de Jesus. Mas ele já tinha ouvido antes do próprio Deus em Gênesis 3:15. Essa reafirmação agregada a sinais e tempos específicos plantou nele um senso enlouquecido de urgência. Mais do que qualquer outra criatura ou pessoa, ele entendeu o cerne de toda a mensagem: o fim está próximo. Ou melhor, “o meu fim está próximo”.

Daí em diante foi uma corrida contra o relógio para atravancar o máximo possível o plano de Deus. Em vão, pois tudo aconteceu e tem acontecido como sempre foi predito pelo Senhor, e é assim que vai continuar sendo.

Mas isso não descarta a possibilidade de uma interferência pessoal do Inimigo no mundo, tentando desesperadamente evitar o que Jesus disse. E por Mt. 24:24 cremos que ele realmente o fará.

Antes do fim

Pensando em como os seres humanos se organizam e como gostamos de fazer as coisas, não isoladamente, mas em qualquer canto do planeta repetindo alguns conceitos, não era de se duvidar que a grande maioria dos cristãos se comportasse como verdadeiros súditos ou cidadãos de um novo sistema político encabeçado por Jesus.

Com a demora da Sua vinda, suas palavras começaram a ser vistas como “promessas de campanha”, e com a contra-campanha do Inimigo, chegamos aos dias de hoje dizendo: “O que foi mesmo que Ele disse?”.

Aí os nossos amados colegas com toda a sua sopa de letrinhas, PhD., ThD., DD., Mt., Bel., Dr., etc, e suas confabulações e conjeturas, desde os tempos mais remotos, lá pelo século III e vindo, criaram, inventaram, pintaram e bordaram uma série de “escatologias” que nem sequer estão na Bíblia. Um verdadeiro bezerro de ouro. Aliás, se convidassem alguém ligado a área médica para ir a um curso de escatologia Bíblica na igreja, se ele não tivesse conhecimento do significado teológico desse termo, ficaria pensando: “O que é que cocô tem a ver com Bíblia?”; não se apavore, pois segundo o dicionário, o significado primevo da palavra é “Tratado acerca dos excrementos;” e se deriva de “escatol”, que é um composto oriundo da decomposição das proteínas no intestino, mais “logia”, final comum significando o estudo específico de alguma matéria; trocando em “miúdos”, estudar o cocô! Exame de fezes?

Puxando a descarga e voltando ao estudo, a grande maioria dos escatologistas se preocupou em decifrar ou interpretar quando essas coisas deveriam acontecer, onde a real preocupação deveria ser como devemos estar quando acontecer. O objetivo final de Jesus com a informação era dar esperança e ânimo com os sinais. “Quando virdes... sabeis que está próximo” traz a idéia de não ser pego de surpresa, “vigiai”, de estar se preparando, prontos para o que der e vier, mensagem que é repetida na íntegra no Apocalipse, apenas com mais detalhes e símbolos.

Alguns fatos merecem destaque porque dizem respeito à nossa conduta:

Devemos nos santificar;

Devemos pregar o evangelho para todas as nações, e isso vai acontecer antes do fim;

Haverá uma perseguição sem precedentes e uma apostasia que fará uma divisão de águas no mundo cristão, entre fiéis e apóstatas, e esses últimos serão contados com os ímpios.

O mundo vai virar uma bagunça e todas as pessoas presenciarão esta bagunça, inclusive os salvos.

Quem for pego de surpresa não terá tempo de se redimir.

Para se livrar de ver esses acontecimentos, só morrendo antes e esperando a ressurreição, pois quem viver, verá.

Então, virá o fim.

Marcos, Lucas, Paulo, Pedro, Judas, Tiago e João

Nessa ordem, falam do fim dos tempos obedecendo a um padrão bem interessante e esclarecedor. Todos eles repetem e aprofundam o entendimento do discurso profético de Jesus identificando figuras que preenchem os requisitos dos inimigos do Reino e alertando os cristãos sobre eles, bem como os exortando à fé, à esperança e à perseverança. Marcos e Lucas são textos sinóticos, com pequenas variações ao texto de Mateus, basicamente com conteúdo idêntico, o que comprova que três pessoas diferentes ouviram, entenderam, escreveram e ensinaram a mesma mensagem, o que é fascinante, pois temos três passados completamente distintos:

Mateus, um cobrador de impostos, judeu, que escreveu em grego, empregando diversas figuras de linguagem da literatura rabínica e que organizou seu texto propositalmente como um livro didático;

Marcos foi provável discípulo de Pedro e depois viajou com Paulo, com quem possivelmente aprendeu a argumentar e observou os primeiros escritos deste; escreveu num grego rude e tosco, sem ênfase na teologia e sim nas atitudes de Jesus, e dentre os poucos discursos que registrou, lá está o sermão profético;

Lucas caprichou no estilo, escreveu em grego erudito, digno dos filósofos helênicos seus contemporâneos, fez pesquisa, entrevistou pessoas, organizou os fatos cronologicamente; era grego e estudou hebraico e aramaico para poder reproduzir as expressões idiomáticas que ouviu, e até programou a publicação do seu trabalho em dois volumes; e como não poderia deixar de ser, no cap. 21 de Lucas, o sermão profético brilha para teólogo nenhum botar defeito.

Os outros autores fazem alusões e citações claras ao sermão de Jesus, mas o permeiam com outros textos e idéias que ajudam a assimilar o conteúdo, e em alguns casos, parecem até hinos ou poemas, como se o autor quisesse que o leitor os decorasse, possivelmente devido ao clima de perseguição do século I. Sempre que a “mensagem do fim” aparece, é como estímulo a um padrão de vida que está sendo ensinado, mais ou menos na formula: “Melhor fazer isso, não fazer aquilo, porque o Senhor está vindo, e quando Ele vir, será assim...” e aparece a mensagem.

Paulo era rabino, fariseu, da tribo de Benjamim. Seu nome era Saul em homenagem ao 1º rei de Israel, também benjamita, mas o mundo da época o chamava Saulo, um cacoete lingüístico que dificulta aos falantes terminar palavras em L, R ou S sem vocalizá-las, que ainda se percebe em Portugal, Suécia e Jamaica, (esses dois últimos, ao tentar falar línguas latinas) nos nossos dias. Suas citações do fim dos tempos são sempre bem elaboradas, dramáticas, sobrenaturais e recheadas de textos dos Profetas, que, diga-se de passagem, ele devia saber de cor. Em Filipenses, mesma carta onde ele melhor se identifica dando todas as informações acima, que ele faz uma rápida alusão à volta de Jesus dentro de um contexto de condenação à imoralidade e ensinos de falsos mestres. Mas seus escritos são os mais teológicos. Em I Coríntios 15, a vinda do Senhor é abordada dentro do tema da ressurreição dos mortos, um dos assuntos preferidos dos fariseus, já que seus colegas saduceus, assim como os epicureus gregos, não acreditavam nela. Em I Tessalonicenses 4 e 5, novamente é a esperança da ressurreição junto a uma palavra de conforto para quem perdeu seus entes queridos e sofria nas mãos dos pregadores gregos.

Essa é a regra em todas as suas cartas. Para Paulo, a vinda do Senhor em todos os seus aspectos, não era matéria especulativa, era sim a maior motivação que a comunidade cristã poderia ter para prosseguir “em direção ao alvo”. Paulo jamais anunciou o fim do mundo, mas a ressurreição e a vida eterna, que ele chamava carinhosamente “a mensagem da bendita esperança”.

Pedro, o pescador de homens, a figura mais conhecida do Novo Testamento depois de Jesus. Manteve-se na linha de Paulo. Em suas cartas e nos discursos referidos por Lucas nos Atos, ele exorta ao arrependimento e à santidade, “pois é chegado o Reino de Deus e a vinda do Senhor se aproxima” e com essa vinda o juízo. É interessante notar que mesmo não sendo um perito nas escrituras como Paulo, ou um cientista como Lucas, o texto de Pedro tem uma boa retórica e suas palavras, bem como as de Jesus, se debruçam sobre a tradição e o pensamento judaico, onde entra em cena o Livro de Enoch, um escrito apocalíptico considerado apócrifo por uns 20% dos cristãos e simplesmente ignorado por uns 75%. Crido em segredo por uns 4% e abertamente por 1% ou menos. Já entre os judeus, é uma eterna controvérsia. A maioria conhece, acredita, mas não comenta nem discute. Uma aura de mistério o circunda, afinal ele é uma das fontes primordiais da cabala, junto com o Zohar e o Sepher Yetzirah.

Judas bebe na mesma fonte de Pedro e cita Enoch abertamente em quatro versos de sua minúscula carta. Contudo, a mensagem deles é uma só, devemos nos preparar para nos encontrarmos com o Senhor. Será que já ouvimos algo assim dos profetas?

Tiago é um caso a parte. Faz apenas uma citação rápida e subjetiva da vinda do Senhor dentro do contexto de viver uma vida digna, exemplar e ética. É um apelo à correção de atitudes face ao juízo iminente, semelhante à mensagem de Joel e Amós, por exemplo.

João, por sua vez, não é o “homem do tempo”, é sim o “homem do fim dos tempos”. Sem nenhuma pretensão meteorológica, João previu os maiores desastres climáticos e geológicos já imaginados, e é o mais contundente de todos os escritores do nosso tema. Graças à tradição judaica de nomear um livro a partir de suas primeiras expressões, o Livro da Revelação de Jesus Cristo, passou a se chamar ΑΠΟΚΑΛΥΠΣΙΣ, que para nós, ao invés de ser traduzido, foi somente transliterado e se tornou Apocalipse, o épico do fim dos tempos que deu seu nome à literatura correlata. É de longe o livro mais polêmico e controverso de toda a Bíblia. Há quem diga que o João do apocalipse não é o do Evangelho e das cartas, mas a principal alegação é diferença de estilo, seguida da afirmação de que na época que o livro teria sido escrito, João já estaria morto. O fato é que qualquer estudioso sabe, que não foram apenas pessoas incultas que se tornaram cristãs. Havia na comunidade inúmeros sábios, médicos, escribas, políticos, sacerdotes e pensadores, desde os judeus até romanos e gregos.

Como todos os outros livros da mesma época, não poderia este também ter sido copiado? Ao ser traduzido para outro idioma ou sendo copiado em outra região, não poderia ter sido adaptado aos trejeitos e aos idiotismos próprios da mentalidade local? Tendo por base a grande quantidade de pessoas inteligentes e o princípio da igualdade cristã associado ao ideal grego de difusão universal do conhecimento, a Igreja era uma excelente academia onde diversos níveis culturais se encontravam e trocavam experiências, valor positivo que perdura até hoje.

O livro assim se encaixa perfeitamente onde está, e faz com que acreditemos mais na palavra de nossos irmãos do passado do que nos tendenciosos teólogos do presente, fazendo jus à mensagem de todos os apóstolos que endossavam com veemência o alerta do próprio Jesus, “surgirão falsos mestres, serão lobos devoradores entre vós, e não pouparão o rebanho”.

Pondo a autoridade e a autenticidade da Palavra em dúvida, os estudiosos do presente se jogam de braços abertos para dentro da profecia e vestem a carapuça dos mestres do engano, se levantam contra o Cristo revelado na Palavra e se tornam anticristos, confirmando cada palavrinha que o Senhor disse a João.

Pois não passará um til nem um j, sem que tudo se cumpra, e João era o que melhor sabia disso.

Os Profetas da Primeira Aliança

Todos os profetas falam sobre o Juízo de Deus. Uma leitura superficial pode sugerir que esse é o principal objetivo de todas as suas profecias, mas não. Um aprofundamento no ambiente do profeta e uma observação mais acurada da sua mensagem revelará algo muito mais nobre, o arrependimento para a salvação no dia do Juízo.

Uma imagem recorrente nas sentenças sobre grupos específicos é a do Juízo Universal, que é mais ou menos a idéia de que, se você escapar deste juízo momentâneo e continuar do jeito que está, do último você não escapa.

Existe também um ensino rabínico que diz o seguinte:

Se Deus repete (i.e. na palavra dita pelo profeta) mais de uma vez uma palavra ou expressão numa profecia, esta profecia poderá acontecer mais de uma vez, em épocas diferentes, mas em situações semelhantes, sempre em maior intensidade a cada novo acontecimento.

Se este ensino for verdadeiro (e pela história e experiência, tudo indica que sim), justificaria não só a referência de Jesus à Abominação Desoladora, como também o constante uso da expressão “Em verdade, em verdade vos digo”, que acontece com bastante freqüência quando Ele faz afirmações proféticas. Assim Ele só estaria mantendo um padrão por Ele mesmo estabelecido para com isso afirmar a autenticidade do seu ensino, sua autoridade e a fé dos discípulos.

Também em expressões como: “ouvistes o que foi dito”, “como havia de ser”, “estava escrito”, ou a mais clara de todas, “como lestes nos profetas”, declara não somente a pregação dos profetas sobre o Juízo, mas sobre a vinda do Profeta Precursor, do Messias e do Reino de Deus.

A expressão “os Profetas” na boca dos personagens do Novo Testamento, não se refere apenas aos livros proféticos do Antigo Testamento, mas a todos os profetas que existiram desde Enoch até João Batista, o que mostra que a Igreja primitiva via a mensagem profética como um todo, um conjunto que apontava para um único fim, a salvação dos Justos providenciada pelo próprio Deus, sem interferência de ninguém, e o Juízo executado por Ele mesmo, sem interferência também, mas com interação e colaboração dos seres humanos e dos anjos no processo.

Vale lembrar que alguns profetas foram tão importantes que eles estabeleceram um padrão de comportamento e pregação que influenciou toda a cultura, história, pensamento e didática judaico-cristã. Destacam-se Enoch, Moisés, Elias, Daniel, Jeremias e Isaías.

Conclusão

Consciente da mensagem principal da profecia, busque a intimidade com Deus, tendo certeza da sua salvação através de Jesus, o Messias. Todas as conjeturas, interpretações a respeito de datas, esquemas que tentam situar a volta de Jesus, a tribulação, divisões confusas e difíceis de tempo, cálculos e outras coisas tão comuns nesse campo, são somente isso: conjeturas. Não se deixe confundir por elas. Fique firme no que é realmente importante:


Vede que ninguém vos engane. Permanecei naquilo que ouvistes acerca da Palavra por nós pregada no poder do Espírito, e Nele sede fortalecidos. E a Palavra é esta: ‘Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa’. Assim venceremos o Inimigo e seus enviados, e estaremos em pé diante do Senhor na sua vinda. Essa é a doutrina dos Apóstolos, a Palavra da Fé que pregamos, a Lei e os Profetas, o firme fundamento alicerçado na Rocha.”


Que a Graça e a Paz de Yeshua sejam multiplicadas na sua vida, até que Ele venha!


Juliano Leal, MRM-MARP.

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