O Criador e o Coelho

Um coelho estava acostumado a dar os seus passeios matinais pelo bosque onde morava. Todos os dias era sempre igual. Saía da toca, comia umas folhas, umas frutas, levava alguma coisa pra casa e continuava sua feliz rotina. Até que algo aconteceu.
Numa dessas tranquilas manhãs, de repente, tudo ficou escuro. Muito barulho se ouvia ao redor. Gargalhadas altas e uma voz rouca e potente que disse:
-Eles vão adorar!
Um estrondo debaixo dos seu pés deu-lhe um tremendo susto e sentiu seu corpo totalmente a deriva sobre um espaço desconhecido. Começou a enjoar enquanto era era jogado de um lado para o outro naquele saco fedorento.
Subitamente, tudo parou. Ouviu passos, alguém o ergueu. Mais passos. Silêncio. O saco se abriu.
Um humano com a cara enrugada e os cabelos ralos e bem brancos o agarrou pelo cangote e o girou diante dos seus olhos. O humano sorriu encarando-o e disse:
-Bem vindo ao seu novo lar, amiguinho! He he he!
E o pôs numa gaiola. Enfiou uma folha de alface murcha entre as grades e um pote dágua pendurado nelas. E a montanha russa começou outra vez.
Saíram de um galpão e foram em direção a uma bela casa. Então o coelho orou desesperado:
-Senhor Criador! O que está acontecendo, onde estou? Quero voltar para o meu bosque, onde eu te louvo todos os dias! Por que esse humano me pegou? Socorro!
O velho entrou na casa. Crianças vieram recebê-lo com muita alegria. O velho mostrou-lhes a gaiola e disse:
-Feliz Páscoa!
O coelho perguntou ao Criador:
-Essa data não é aquela que nós deveríamos ficar longe dos humanos?
O Criador respondeu:
-É sim, coelho. Para entender a razão, dê uma olhada ao seu redor.
O coelho olhou e ficou horrorizado. Haviam imagens e ídolos com formas de coelhos e ovos por todos os lados. No canto da sala havia um altar com quatro cestos cheios de oferendas diante de uma prateleira vazia. Uma das crianças disse:
-Vamos colocá-lo ali!
O coelho disse novamente ao Senhor:
-Senhor, o que eles estão fazendo?! Isso é um erro! Eu não posso ser adorado! Parem com esse absurdo, me tirem daqui! Socorro! Quero ir embora!
E começou a se agitar dentro da gaiola. As crianças disseram:
-Vamos cantar pra ele se acalmar; "Coelhinho da páscoa, que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos, três ovos, assim? Coelhinho..."
-Acho que se eu parar elas param...
Se encolheu no canto. As crianças pararam e foram brincar.
O tempo passou, a páscoa também e o coelho voltou para o galpão, onde a comida era fedorenta e o espaço apertado. Todos os dias ele lembrava do bosque.
Numa noite, o humano esqueceu as portas abertas, pois estava cheio de vinho. O Criador acordou o coelho e ele fugiu, voltando ao seu bosque.
Chegando lá, foi recebido com festa por sua família que agradeceram ao Criador por sua volta; mesmo ficando perplexos de saber que apesar de todas as coisas maravilhosas que o Criador nos proporciona, existem humanos que adoram coelhos...
Juliano G. Leal
MRM-MARP

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