Coisas que aprendi na igreja - Parte X

Civismo na igreja na minha infância era coisa muito séria. Em datas como a Independência se fazia hora cívica na igreja. Diáconos empunhavam as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul com pompa e reverência militar. O próprio pastor puxava o Hino Nacional. Eu achava que eram apenas reminiscências da época do Governo Militar, mas me surpreendi com uma descoberta.

Conversando com um outro pastor, da mesma denominação mas de outra cidade, perguntei se na igreja dele faziam a mesma coisa. E perguntei também se era dada a mesma importância ao Dia da Proclamação da República que se dava ao Dia da Independência.

A resposta me rachou a cara: "Não fazemos mais esse negócio de hora cívica porque isso é idolatria! Amar a Pátria é uma coisa, cultuar a Pátria no altar do Senhor é outra bem diferente!"

Naquela época a reação dele me chocou. Mas, como quem pergunta quer saber, fiquei firme e ele prosseguiu falando do 15 de novembro:
"A Proclamação da República é a celebração da consolidação da democracia, o símbolo da vitória da liberdade sobre a tirania, da massa vencendo o império, a corte e o clero. Também é uma abominação, pois a democracia foi concebida no inferno, gerada nas trevas, desenvolvida no pecado e parida na iniquidade! Tudo que fazemos nessas ocasiões é nos arrependermos dos pecados da nação e orarmos pela transformação do Brasil."

Quase me ofendi com a postura do pastor que na época eu rotulei de "liberal". Ao comentar sem detalhar quem ou onde, o fato com outros líderes, eles disseram que "essa postura de esquerda tem se infiltrado em nossas igrejas como ervas daninhas. Temos que orar para que Deus ponha as coisas de volta no prumo!"

Quatro anos depois eu estava defendendo a mesma postura liberal que meus pares condenaram. O que causou o efeito cascata que culminou na postura que mantenho e tenho depurado até hoje foi que, naquela mesma semana, zapeando os canais de TV na madrugada, assisti uma cerimônia exatamente igual àquela que eu via ano após ano na minha igreja. O detalhe, é que as coisas estavam literalmente debaixo do prumo, do esquadro, do compasso, dos aventais, do olho-que-tudo-vê...

É cruel, mas eu vi a igreja fazendo de tudo e conseguindo ser uma loja! E parece que é disso que os crentes gostam, que a igreja seja uma loja. Quando não é num sentido é no outro! E no fim a encrenca é a mesma: você vai numa porque te agrada o produto que nelas é oferecido...

E cuidado pra não ouvir demais a voz da liberdade, abrindo bem as asas, e parar de ouvir a voz de Deus.

Juliano Leal

MRM/MARP

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