Onde terminam as Oferendas





Lembro que tinha um objetivo quando escrevi o conto "Como começam as oferendas", só que o tinha deixado à deriva. Até agora.

Todos temos um pouco (ou muito) de cada um dos personagens que foram 'exagerados' nesse conto. E todos nós começamos a fazer certas coisas, com o passar do tempo - como a família que começou a tirar o miolo do pão - para tentar proteger nossos sentimentos, ou lembrar de proteger o dos outros. O problema é que esses pequenos costumes acabam virando verdadeiras oferendas, que nos prendem a atitudes de dor, ressentimento, mágoa...

Às vezes somos como os filhos que se afastaram. Tentamos ficar longe das pessoas ou situações que nos 'ofendem'. Deixamos para trás amigos, conhecidos e até nossa família. Gerando em nós um laço de dor.

Outras vezes somos como os irmãos que tiveram a boa atitude de tentar melhorar a vida dos mais novos, mas com a intenção errada de previnir que eles passassem por experiências que julgavam traumáticas. Queremos fazer tudo do nosso jeito pois sempre sabemos o que é melhor, temos conhecimento de todas as situações da vida. E quando não somos aceitos - afinal, como podem não nos ouvir se estamos certos? - se gera um laço de ressentimento.

Ou somos como as crianças que não foram nem mimadas, nem tiveram independência suficiente para sair do lugar que lhes incomoda. Literalmente 'não fedemos nem cheiramos', ninguém se importa. Somos medianos, medíocres. E a mágoa nos enlaça.

E todos esses laços em nossa alma, nossos sentimentos, se manifestam de alguma forma no nosso proceder, e nosso físico. Como a família que não comia mais o miolo do pão por lembrar do Maurinho. Pela dor, ressentimento e mágoa que toda a situação gerou.

Um exemplo mais prático, mais diário? Nossa oferenda ao ressentimento, à mágoa, quando dizemos que não nos importamos pelas pessoas não nos procurarem, ligarem, mandarem e-mail. Nossa oferenda à dor, raiva ou ódio, quando nos negamos a consertar uma situação, seja com familiar ou conhecido. Nossa oferenda ao orgulho, a soberba quando nos negamos a reconhecer um erro ou falha.

E estes são uns poucos exemplos. No nosso dia-a-dia multiplicamos ofertas, oferendas, culto a vários sentimentos e atitudes que terminam por nos afastar da verdadeira adoração, da verdadeira liberdade e reverência.

Então, peça ao Único que é digno de receber a nossa oferenda, a Ele, o único que pode nos libertar desse paganismo íntimo, que nos faça livre desses laços que nos arrastam para a morte. E que Ele nos ajude a oferecer a nossa vida completa como oferta viva e agradável.


Jaqueline H. Leal

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