Ele venceu a morte, ele venceu... o Voldemort!

"Por quê você vive?"
O encerramento cinematográfico da saga mágica que conquistou fãs e fanáticos e que também despertou  a ira de muitos religiosos (igualmente fanáticos), trouxe novamente à tona vários assuntos interessantes.
Não se via nada assim desde, quem sabe, Star Wars, que não era livro, mas que gerou livros, séries animadas, quadrinhos, fã-clubes e até um culto Jedi real.
Harry Potter tem muitos elementos em comum com essa e outras sagas, mas também tem elementos únicos e inéditos, e é aí que encontramos a explicação desse fenômeno cultural do século 21.

O menino que sobreviveu virou um homem. Um mito. E como todo bom conto de fadas (nesse caso de bruxas), precisava ter um final feliz, um felizes para sempre, e nisso foi exatamente igual aos outros. Mas o aspecto que me chamou a atenção, principalmente nas opiniões da crítica manifestadas logo após a estreia do último filme, foi a saga ser vista como uma história carregada de "moral cristã."

Confesso que isso me surpreendeu, apesar de eu já ter identificado e abusado aqui mesmo das semelhanças entre os vilões da saga e o comportamento imoral de certos setores do cristianismo. Minhas comparações seguiram essa linha justamente pelo fato do mundo de Potter ser duramente criticado por grupos que na ânsia de se livrarem dele, se igualavam aos vilões, e outros cujo comportamento faria Voldemort ser um cordeirinho.

Harry encontra Dumbledore no além.
Mas aceitando a opinião da crítica como justificável, procurei na saga elementos que a motivassem. E fora o caso da EQM do Harry deixar a história muito cristã, "morrendo" e voltando e vencendo o inimigo, existem coisas mais próximas do cristianismo e mais distantes da magia do que se imagina.

Símbolo das Relíquias da Morte
Dumbledore é sem dúvida um sacerdote treinando Harry para uma missão e não para ocupar seu lugar. Ele se estabelece numa posição insubstituível de liderança e exemplo, mas deixa uma legião de seguidores, praticamente divididos em três grupos principais: a Ordem da Fênix, fundada por ele mesmo, a Armada de Dumbledore, fundada por Ron e Hermione e liderada por Harry por aclamação, e os seguidores que não faziam parte de nenhuma das duas mas o admiravam e respeitavam como o maior mago que já existiu.

Varinha das Varinhas
1ª Relíquia da Morte
Num contexto cristão, Dumbledore é um mestre e Harry um profeta. E não existem paralelos a essas posições no paganismo, não desse jeito institucional. Alias, essa coisa institucional é uma característica predominantemente cristã, uma vez que nos cultos mais antigos, o sacerdócio era institucional mas não chegava ao nível que se tem hoje em que a hierarquia afeta cada centímetro do cristianismo.

Não haveria esse perfil vertical na instituição cristã sem hierarquia. Nos tempos antigos, os sacerdotes eram vistos como a representação do divino entre seu povo, de maneira horizontal.

Eles estavam ali para facilitar o acesso das pessoas ao sobrenatural, eram a oportunidade que as pessoas tinham de se conectar com a "inteligência cósmica" ou "com a força do universo" ou com a "mãe natureza", como muitos grupos pagãos ainda fazem hoje.

Pedra da Ressureição
2ª Relíquia da Morte
Na saga, percebemos o oposto, o dualismo cristão de bem e mal, e grupos se confrontando por interesses políticos e corporativos. Me xinguem, mas isso soa bem evangélico. Voldemort toma o Ministério da Magia e impõe o caos, e Harry precisa destruí-lo para que a paz retorne, pois ele se mostra um ditador genocida.
Hitler fez a mesma coisa, e foi largamente apoiado pela igreja da Alemanha. Tanto a católica, quanto as protestantes. E saiu matando todos os "sangues-ruins" que poluíam sua sociedade perfeita.

A essa altura já devem ter percebido que acabei de afirmar que Hitler era cristão. Sim, assim como Constantino e os Papas e Bispos de Roma que mataram milhares de pessoas que se opunham aos seus regimes estúpidos e sanguinários. Hoje, quem lê um artigo como esse se pergunta: Então os cristãos de hoje são culpados pelos crimes dos ditos cristãos do passado?

Capa da Invisibilidade
3ª Relíquia da Morte
A igreja de Roma considerou por muito tempo os judeus culpados da morte de Jesus. E até hoje, a maioria das igrejas evangélicas é considerada seita e dogmaticamente condenada ao inferno eterno pela Santa Sé junto com tudo que não for submisso ao Vaticano e seu rei. E essa pressão institucional idêntica ao Ministério sob Voldemort, é real na maioria das igrejas de hoje. E o comportamento rebelde de alguns setores, é igual ao esforço da turma do Harry para acertar as coisas.

Aí está o comportamento cristão que a crítica viu e no qual identificou uma moral cristã. Não foi só do fato de a luz vencer as trevas e Deus vencer o diabo. Ou de um avatar messiânico vencer a morte e o inimigo. É um conjunto. E esse conjunto, ao contrário do que vários pregadores tentaram vender (vender mesmo, pegando carona no fenômeno), tem um desenho muito distante do paganismo. O máximo que consigo concordar é que o conteudo e a linguagem sejam da bruxaria, mas ainda assim, da bruxaria folclórica (não estou defendendo e nem dizendo que é correta), mas o formato é cristão.

Diário de Tom Riddle
1ª Horcrux
Hoje, grupos reconhecidamente cristãos são racistas, ajudam a difundir comportamentos de ódio rotulando genericamente grupos com base em aparência física ou pelo meio onde vivem, como tratar todo árabe (ou homens morenos de barba) como terroristas. Fazem piadas de mal gosto com pobres e excluídos da sociedade. Tratam mal os pobres nas igrejas ricamente adornadas com luxo e ostentação.

Anel de Servolo Gaunt
2ª Horcrux
Quando Voldemort rouba a Varinha das Varinhas, e ela não funciona com ele, ele mata Snape por considerá-lo o senhor da varinha e assim garantir para si a lealdade dela.

Milhares de pastores ditadores hoje matam Snapes todos os dias para terem de volta a lealdade de ministérios e ovelhas das quais não são dignos. Jovens cheios de dons e habilidades morrem espiritual e psicologicamente todos os dias nas mãos de pseudo ministros cristãos que, como diz a Palavra, são lobos devoradores que não poupam o rebanho.

Medalhão de Salazar Slytherin
3ª Horcrux
Voldemort ameaçava a todos com chantagem dizendo que se juntando a ele seriam poupados. Já ouvi essa cantilena dentro da igreja. E quando queremos que a música pare, somos acusados de rebelião e considerados feiticeiros, porque a Bíblia afirma que rebelião (contra a Palavra) é igual a feitiçaria, mas os feiticeiros cristãos dizem que a rebelião contra eles e sua instituição é feitiçaria. Desculpem a repetição de palavras, mas se os rebeldes são feiticeiros, aprenderam com quem sabe melhor que as próprias bruxas.

Taça de Helga Hufflepuff
4ª Horcrux
Voldemort criou Horcruxes, objetos amaldiçoados, impregnados de magia negra onde ele escondeu pedaços de sua alma para continuar vivo caso seu corpo fosse destruído. Harry, Ron e Hermione saem em busca delas, pois destruí-las enfraquece seu dono, deixando-o em igualdade de condições para confrontar Harry.
Os dogmas das igrejas de hoje são verdadeiras Horcruxes, impregnadas de "alma", como os pentecostais gostam de rotular profetadas, mensagens das quais se duvida que o Senhor tenha dito. E sim, é praticamente impossível que a alma não interfira nas coisas que falamos ou fazemos.
O problema é que as igrejas juram de pés juntos que a revelação que tiveram é pura e cristalina vindo direto do Pai das Luzes sem escala, e em nome disso mantem vivas as piores práticas em nome de um deus bem antibíblico, onde a casca é destruída ou modificada mas a essência permanece a mesma.

Diadema de Rowena Ravenclaw
5ª Horcrux
Além disso, Voldy usou relíquias mágicas para fazer as Horcruxes, objetos valiosos que as pessoas respeitariam e preservariam, de valor histórico e cultural, e assim, preservando a memória e história, o próprio povo o manteria vivo! Quantas bobagens estão "horcruxadas" nos nossos valores culturais? Quantas idiotices são temidas pelas pessoas nas igrejas por pura convenção comportamental? Quantas blasfêmias extra-bíblicas são ensinadas e toleradas porque as pessoas idolatram alguem ou alguma idéia presa a um ícone sagrado? Quantos bezerros de ouro são cunhados diariamente, desviando a atenção das pessoas do verdadeiro Milagre, da verdade da Palavra?

Nagini
6ª Horcrux
Uma das Horcruxes era Nagini, a pitom de estimação do Voldemort. Outra era a cicatriz de Harry. Muitas horcruxes cristãs hoje estão igualmente presas em seres vivos, alguns sabem e lutam para preservá-las, como a cobra. Outros, como o Harry, não sabem que ela existe e que é grandemente responsável pelo seu sofrimento. Harry tenta usar as Relíquias da Morte para lutar, mas o que salvou sua vida foi o amor de sua mãe e dessa vez sua libertação vem com a morte do ego e de sua própria carne. Quando Harry aceita se entregar para morrer voluntariamente, sua libertação começa, e ele vence a morte.

Interessante, é que Voldemort repete sem parar que só ele pode viver para sempre (por causa de sua perícia, poder e pelas horcruxes) e mais ninguem. Harry sempre tem medo de morrer. No fim, quem ama sua vida perde e o que escolhe perder a vida ganha.
Harry: na cicatriz, uma horcrux
involuntária, a 7ª Horcrux

Essa postagem não é pra exaltar Harry Potter, mas para refletir que enquanto os cristãos agem como comensais da morte e bruxos das trevas, Harry teve um comportamento cristão sendo um bruxo! O pior problema disso, é que isso prova que os comensais e bruxos maus existem, e Harry é só um personagem fictício!

Respondendo a pergunta que fiz lá em cima, somos culpados pelo passado? Não, somos culpados pelo presente. Por sermos isso que descrevi, por nossa mudança não ser tangível, por termos uma moral cristã que é uma moral de cuecas!

Somos culpados pela crítica reconhecer moral cristã numa fábula de feitiçaria e não no nosso comportamento. Somos responsáveis por Harry Potter ser mais cristão que os cristãos!

Somos vergonha para o Evangelho quando precisamos brigar em rede de televisão por coisas que Jesus resolvia com mansidão e poder. Por buscarmos defender na justiça direitos que exigimos como cidadãos desse mundo quando deveríamos nos comportar como cidadãos do Reino.

Fazemos o Sacrifício da Cruz virar pó quando aceitamos que igrejas fiquem lotadas por pessoas ignorantes despejando dinheiro dos bolsos acreditando em James, Jambres e Simãos, e criticamos a turma do Potter!

Se encerra uma Saga cujo uma das características foi revelar a hipocrisia do cristianismo que quis tirar o cisco dos olhos dos outros e não viu uma madeireira nos seus próprios olhos.

Mas, seria igualmente hipócrita se depois disso tudo não desse um contraponto. Ao contrário de certos grupos, não sou dono da verdade, não espero estar 100% certo, pois é impossível. Não acho que devam sair por aí promovendo Harry Potter, nem dizendo que Harry Potter é cristão, pois não foi o que eu disse. Mas isso me fez fazer uma escolha. Quero ser autêntico. Ter coerência, dizer que creio e fazer como disse. E escolhi crer na Palavra como ela é. E se isso me custar o afastamento da estrutura institucional, não me importo, se isso custar "caro" pela tabela evangélica, pra mim tá ótimo. Se perder "amigos", não me importo, pois decidi viver a Palavra, e cansei de ouvir pessoas vomitarem suas doutrinas milagreiras de cima de suas zonas de conforto. Falando de pecado e maldição com um salário gordo e um carro do ano. Não acho errado ter carro e salário bom, mas a ostentação com um sorriso debochado na cara, por exemplo, me deixa furioso.

Estou me aproximando de pessoas que valorizam as pessoas. De grupos que não priorizem ser instituição. Que não tem medo de matar as horcruxes das suas vidas e de seus ministérios. Pessoas que estão encontrando uma fonte de água limpa longe do cristianismo institucional. E que por isso não estão mais sendo considerados cristãos. Pra muitos somos feiticeiros. Pois estamos bem longe da feitiçaria, seja a Potteriana, a Pagã  ou a Cristitucional.

Sinceramente, isso é bom. Reafirma nossa identidade pessoal e nos identifica como seguidores radicais das escrituras. Não nos escondemos numa placa, nem num apelido.
Se me perguntam no que eu creio, sou o Juliano, sigo Jesus o Messias, e obedeço a Bíblia.

E como aparece na tela depois do filme, THE END.

Se vier mais alguma coisa, já é outra história. A que começamos a escrever agora.

Juliano G. Leal - MRM/MARP 

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