No meu tempo...

O guri pergunta pro pai:

-Pai, tu apanhava quando era pequeno?
-Sim.

Aí o guri pergunta pra vó:

-Vó, porque tu batia no pai quando ele era pequeno?
-Porque ele merecia. Era muito arteiro. Se a gente não endireita o piá em casa, a brigada endireita ele na rua. E pai e mãe amam. Cuidam pra não machucar. brigadiano não quer saber, desce o porrete!

De volta ao pai:

-Pai!
-Que foi...
-Eu sou arteiro?
-Um pouco. Às vezes muito.
-E porque tu não me bate?
-Porque eu posso ir preso.
-Como assim pai?
-Pais que batem nos filhos hoje podem ir presos.
-Não entendi nada.
-Como não, filhote?
-É que a vó te bateu pra tu não ir preso e agora tu não me bate pra tu continuar não indo preso?
-Um dia tu vai entender, filho. Agora vai brincar vai...

Mas ele volta pra vó:

-Vó!
-Fala querido!
-O pai disse que se ele me bater que nem tu batia nele ele vai preso!
-Os tempos mudaram meu filho. As pessoas que escrevem as regras que temos que obedecer acham que hoje é melhor assim. No meu tempo era diferente...
-Diferente como vó?
-Vai ficar tarde filhote, teu tempo de brincar é agora, daqui a pouco quando tu entrar a vó te explica.

O guri se afasta, e a vó murmura consigo mesma:

-Um dia meu filho, tu vai entender. Vai perceber que no meu tempo os pais educavam os filhos pra que não houvessem delinquentes. E esses, quando havia, iam pra cadeia. Hoje, os pais de família irão pra cadeia por causa de uma palmada. Porque os delinquentes ladrões e salafrários que deveriam estar na cadeia, estão escrevendo leis.

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Juliano G. Leal - MRM/MARP

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