Coisas que aprendi na igreja - XVII
Quando pensamos no diabo, a primeira imagem que nos vem à mente é a bizarra figura de tridente e chifres que se fixou no imaginário ocidental. Mas essa imagem foi inventada pela igreja católica pra que as pessoa ficassem com medo do inferno.
Entretanto, a Bíblia não fornece uma descrição assim dele.Todas as figuras bíblicas alusivas a este ser são diferentes da citada. Temos a serpente, o dragão, mas a que vamos ver em ação na história de hoje é a mais perigosa de todas.
O Anjo.
Nossa história de hoje tem lugar numa cidade do interior, mas nem por isso uma cidadezinha. De fato, uma cidade bem movimentada pro interior. Com ares de metrópole mas com simpatia de fazenda, era o palco cultural perfeito para que uma moça cheia de más intenções se estabelecesse para protagonizar um episódio quase fatal. Apenas para facilitar a narrativa, vou chamá-la de Lúcia.
Uma igreja bem desenvolvida, conhecida e respeitada foi o primeiro passo do plano sendo posto em prática. Mas ninguém sabia. Ninguém imaginava. Ninguém suspeitava ou suspeitaria de uma jovem bem arrumada, de bons modos, de bom gosto e muito, muito bonita.
Apresentada num culto de ceia como novo membro da igreja, logo atraiu os olhares dos rapazes, que sentiam cheiro de carne nova. E também atraiu os olhares fulminantes das moças que viram nela uma concorrente. Mas isso logo passou. Em uma semana a moça era respeitada e admirada por ser uma moça de oração muito comportada e exemplar.
Apesar de ser algo estranho se observado de fora, um fato não chamou nem um pouco atenção das pessoas. Ela realmente orava muito, e na maior parte do tempo em línguas estranhas. Entrava em "mistérios" realmente rápido. Um "ser inferior e pouco espiritual" ousou questionar esse comportamento e quase foi escorraçado da igreja. Ela já estava sendo beatificada pela idolatria pentecostal.
Aproximadamente três meses depois de ter chegado, começaram as visões. Sempre muito ricas e repletas de detalhes que embriagavam a audiência. Em cinco meses, as pessoas iam à igreja ansiosas esperando que a abençoada irmã Lúcia tivesse uma visão. Assim começou a simbiose. A vampirização. Eles precisavam das manifestações para alimentarem suas necessidades místicas. Ela estava satisfeita com a adoração que recebia.
Um ano. O comportamento da igreja havia mudado lentamente. Para algo nada saudável. longe de mudanças positivas que afastam do pecado e trazem transformação de caráter, as pessoas estavam absortas num sistema de peregrinação e busca desenfreada por milagres. E aí começaram as revelações pessoais e as previsões sobre o futuro das pessoas. Revelações sobre heranças e casos judiciais que seriam "desamarrados para a glória de deus". Promessas de casamentos arrebentados que seriam reunidos. E a pior parte: avisos de que a liderança da igreja estava sob ataque e perseguição "das trevas".
Seguiu-se um frenesi de pânico. Não se falava de outra coisa na igreja. Foram organizadas vigílias e movimentos de todo o tipo para fazer guerra espiritual e "proteger a liderança". Membros ligavam várias vezes por dia para saber se o pastor estava bem, fazendo com que a carga de estresse dele que já era significativa, aumentasse ainda mais. Mas Lúcia, pelo incrível que pareça, conseguia manter a calma.
Neste clima de tensão, um dos líderes mais influentes foi flagrado em adultério pela própria esposa. A igreja viu isso como o primeiro ataque. Obviamente que a luz de Lúcia precisava ser considerada sobre os fatos. E ela foi "buscar de deus" pra saber a resposta. Que resposta? Se o líder permanecia ou não ministrando? Se devia ser perdoado, aconselhado, tratado? Não. A proposta dela era clara. Ia "consultar deus" pra decidir se o homem devia ou não sair da igreja. Um cavalo derrubado abriria o caminho para a dama negra se aproximar do rei.
Os "ataques" se intensificaram, e a líder do ministério de intercessão caiu gravemente enferma. E as suas melhores amigas, que eram justamente as pessoas que poderiam substituí-la em sua função, foram gentilmente aconselhadas por santa Lúcia (sob divina inspiração), a auxiliarem sua amiga nessa hora difícil. As torres estavam no chão.
De posse de um versículo bíblico muito forçadamente arranjado para favorecer o contexto escolhido, ela abordou o líder de adoração dizendo que deveriam fazer um "louvorzão", pra "mostrar pro inimigo que não temos medo dele". E o bispo acatou a ideia, saindo de sua posição, desviando sua atenção da realidade e deixando o rei em xeque.
Acontece, que a esposa do pastor, que por acaso naquela igreja também era pastora, nunca tinha parado de orar. E já há algum tempo tentava avisar o marido de que algumas coisas a inquietavam à respeito de Lúcia. Mas ele sempre achava que era "implicância dela com a menina".
A rainha branca reuniu um grupo de peões e se trancou no castelo em uma reunião privada de intercessão. Não aconteceram visões, nem profecias, nem ventos, nem tombos pelo poder, nem manifestações sobrenaturais externas. Lágrimas desciam de rostos que confrontavam os assuntos debatidos com a verdade Bíblica e demonstravam um claro afastamento dos valores originais e do sobrenatural sadio de Jesus, dos Apóstolos e dos Profetas.
Ali aconteceu uma mudança. Um impacto realmente vindo do céu sacudiu aquelas pessoas. De dentro pra fora, de forma consciente, eles experimentaram uma revelação verdadeira, que foi incontestável, e veio à todos simultaneamente. O pecado de cada um, o pecado da igreja, ficou evidente. E algo precisava ser feito.
Mas o quê? E como?
Um mês se passou da reunião de oração. Tudo continuava como estava. Mas todos foram para o tal louvorzão. Se estivéssemos lá com as informações que temos aqui, veríamos o clima tenso no ar entre as duas mulheres. Ambas já sabiam uma sobre a outra, e a verdadeira guerra espiritual ia começar.
O culto foi acontecendo, mas bem na metade, houve algo muito interessante. A intercessora que estava doente chegou na igreja e pediu especificamente para que a "amada irmã Lúcia" fosse encontrá-la nas dependências da igreja.
Ao avistar as duas indo em direção às salas reservadas, a pastora também se deslocou naquela direção, sinalizando aos seus soldados que a acompanhassem. Ao entrarem, se depararam com uma cena bizarra. Lúcia bufava com os olhos semicerrados, demonstrando estar pronta para agredir quem se atravessasse em seu caminho. Mas antes que você pergunte, não, ela não estava "possessa", ou endemoninhada. Ela estava furiosa.
A intercessora estava desmascarando "Sua Santidade" e revelando que tudo que acontecera era um enorme jogo psicológico, levemente satânico, para trazer confusão àquela igreja.
Na igreja eu aprendi que muitas vezes, fazemos questão de divinizar o homem de um jeito tão absurdo que convidamos o diabo a invadir nossas vidas através de pecados como a idolatria. E não conseguimos identificar a ação dele nas situações, simplesmente porque estamos cegos com a sua "luz". Ele se veste de Anjo de Luz e engana até mesmo os mais experientes. Gostamos do doce sabor do veneno que ele sutilmente injeta e morremos gozando. A velha história do sapo na panela.
Mas vale o ditado: Pode-se mentir pra muita gente por pouco tempo, pouca gente por muito tempo, mas não dá pra enganar todos o tempo todo...
A verdade aparece, e quase sempre do jeito que diz o hino: marchando.
Querem saber o que houve com a Lúcia? Mudou de cidade, foi pra longe sem deixar rastros. Assim, pode fazer tudo novamente em outro lugar, sem que fosse denunciada. O objetivo dela era dominar a igreja e ser sustentada pelo ministério. Mas a Luz da Verdade brilhou nas trevas. (1 João caps. 1 e 2).
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Essa história é um conto montado a partir de três histórias reais.
Essa história é um conto montado a partir de três histórias reais.
Juliano G. Leal
MRM/MARP
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