Coisas que aprendi na Igreja - Parte XVIII

Rumpelstiltskin
O Menestrel e a Jovem Dama.

Em um lugar muito familiar às pessoas que procuram cura para suas emoções, não tão distante dos outros onde as outras histórias dessa coluna aconteceram, um jovem casal descobre o amor. Um menestrel e uma jovem dama da corte, percebem que podem se unir e formar uma família. Ou assim pensavam eles.

Como todos os outros casaizinhos enamorados, só tinham olhos um para o outro, mas por um golpe muito sutil de suas emoções, tiveram seu conto de fadas roubado pelo duende mais cruel de todos os contos de fada.

Rumorcritiquin!

Esse duende era provavelmente um parente distante de Rumpelstiltskin, e suas técnicas muito mais apuradas e ardilosas. Enquanto Rumpel era sagaz, fazendo contratos que pareciam ser bons mas que eram cheios de armadilhas, Rumorcritiquin era pior, pois as pessoas nem mesmo percebiam estar fazendo um contrato com ele. E ele não exigia assinatura em papel! Para assinar com Rumorcritiquin bastava apenas repetir as palavras que ele dizia na hora em que estava fazendo seu feitiço. Ao fazer isso, quem pactuasse com ele, nem percebia que estava oferecendo o mesmo pacto à todos os que estivessem ao seu redor.

De repente, o reino todo estava sob seu domínio, e caso alguém começasse a perceber a sua influência, ele se disfarçava muito bem, mudando inclusive de nome, passando a se chamar Nadaseh, Nadavih ou Nahfueh, que era amado e cuidado por todos quando fazia suas visitas surpresa.

Mas o casal não sabia como lidar com ele, e assim como seu primo Rumpel, ele sacaneia os dois, fazendo com que todo o tipo de boato começasse a ser espalhado sobre eles. O jovem menestrel foi acusado de ser um ex-bobo da corte que estaria se aproveitando de seus talentos em mentir e fazer rir para agradar a família da jovem dama. Ela por sua vez, acusada de mentir sobre seu passado e ter sua nobreza posta em duvida pelo reino e pelos súditos.

Cada pessoa começa a criar sua própria versão da história, e a medida em que isso acontece, Rumorcritiquin fica mais forte ao ponto de ter poder para fazer o que sempre desejara: separar os dois.

Caprichando novamente com base no case de sucesso da família, Rumorcritiquin decide enviar os enamorados não para uma, mas para duas realidade paralelas diferentes do reino, onde ele governa nas duas. Na dimensão do menestrel, Rumorcritiquin adota o nome de Izholamenttho, um rei cruel que tortura e mata seus desafetos com músicas que lhes fazem lembrar seus fracassos e reafirmar que estão sozinhos.

Na dimensão da jovem dama, ele adota o nome de Dhazillusan, um rei mentiroso e debochado que torna as pessoas frias e sem gosto pela vida através de seu pessimismo sarcástico.

Algumas pessoas no reino, sentiram falta deles e começaram a trabalhar para descobrir o motivo de seus desaparecimentos. Entre os súditos, estava um velho mago, magrelo e mal humorado que já tinha sido vítima de Rumorcritiquin no passado e começou a reconhecer sua magia.

Durante toda sua vida ele estudara a Magia Profunda e queria ter uma oportunidade não para se vingar, mas para provar a Rumorcritiquin que ele não era imbatível, e que não se consegue ter êxito no mesmo reino duas vezes.

Foi quando o mago, quase por acidente, descobriu uma passagem entre as dimensões. Mas para usar essa passagem ele precisaria de um amuleto extremamente perigoso e difícil de usar chamado Rhe Dsóchal. Usando todo o seu conhecimento, ele conseguiu entrar na realidade da jovem dama, onde ele a encontrou boçal e enfeitiçada por um fazendeiro rico que criava renas. Uma piada de mal gosto de Rumorcritiquin, já que o menestrel era amigo dos cavalos.

Se disfarçando de menestrel, o mago conseguiu acordar a jovem dama de sua hipnose fazendo com que as sutis amarras de Rumorcritiquin se desmanchassem, fazendo com que os dois caíssem de volta à realidade original. Mas essa era só metade da história. O amuleto Rhe Dsóchal não funcionava na realidade depressiva do menestrel.

Para piorar a situação, o mago teria que entrar de fato na realidade do menestrel, fisicamente, sem a proteção do amuleto. Isso só seria possível se o mago encontrasse o local exato de um portal muito raro chamado Unsquan Tospila pra poder viajar através dele e chegar onde o menestrel estava.

Numa reviravolta inesperada, o mago descobre com ajuda da jovem dama que através de uma aliança fraterna, o mago poderia levar o amor dela para o menestrel e assim despertá-lo. Mas para funcionar, a aliança precisava ser feita num lugar onde houvesse um lago sobre uma montanha, ao por do sol.

Somente com sua fé e esperança, o mago e a jovem dama partem para as montanhas para descobrir o lugar. Depois de caminharem horas e o mago sentir o peso de sua idade dilacerando seus ossos, e a jovem dama quase desistir, ainda com sequelas da sua recente experiência, eles encontram um sinal escondido perdido entre a vegetação que apontava o caminho.

Estando lá, estavam prestes a fazer a aliança quando um batalhão de escravos de Rumorcritiquin tentou atacá-los. Mas o mago usou uma dose de uma poção muito preciosa e extremamente difícil de preparar chamada Khoszientia Lihppa, e fulminou todos de um só golpe.

Estavam quase perdendo o por do sol quando finalmente conseguiram fazer a aliança que os transformaria em irmãos. Assim que fizeram, um mapa para o local onde ficava o portal Unsquan Tospila, apareceu sobre o reflexo do lago.

Eles memorizaram o mapa como puderam. E partiram.

Algumas semanas depois, a dama estava em perigo novamente. Usando a aparência de Nahfueh, Rumorcritiquin estava fazendo-a acreditar que seu menestrel sempre esteve ao seu lado, mas não era o fazendeiro da outra dimensão, mas o filho do fazendeiro nessa dimensão.

Num último ato de lucidez, ela pede ajuda a seu irmão e o velho mago sai numa jornada suicida em direção a Unsquan Tospila. Ao se aproximar do lugar, uma terrível tempestade se abate sobre ele. No último lugar que o mapa mostrava antes de Unsquan, havia um enorme rio e do outro lado um grande porto na planíce onde estava o portal. Mas a tempestade afundou muitos barcos. E o mapa dizia que o portal só permaneceria aberto durante o tempo em que o sol o iluminasse de frente. Olhando para as direções o mago viu que o portal estaria aberto apenas seis horas durante a tarde. E com a tempestade ficaria mais difícil controlar o tempo. Ele estava sozinho.

Como que vindo do céu, um barco apareceu na margem do rio e ele pegou. A travessia foi lenta e muito molhada. Ao chegar no porto, percebeu que a luminosidade do dia se extinguia rapidamente. Mas Unsquan Tospila permanecia aberto, atraente e perigoso. Respirou fundo. Atravessou.

Do outro lado não chovia mais. Era silencioso e aconchegante, embora muito escuro. No fundo de uma caverna, estava o nobre bardo encolhido sobre panos velhos ouvindo um duende magro, amarelo pálido, cantarolando uma melodia melancólica sobre como era inevitável sofrer. Mas ao avistar o mago, o duende se transformou numa velha gorda, cheia de bolhas que pareciam olhos e uma pele roxa, que começou a dar gargalhadas ridículas apontando o mago, fazendo com que se sentisse ridículo e incapaz de cumprir seus objetivos.

Usando uma espada que chamava de Musar, dividiu o duende ao meio, despertando imediatamente o menestrel do transe. Antes que o menestrel pudesse sequer pensar, o mago o arrastou para fora do portal, desejando nunca mais voltar a Unsquan Tospila.

Sem entender direito a situação e sofrendo muito, o menestrel teve raiva do mago. Mas com o tempo e uma longa explicação, começou a se acalmar. A tempestade enfraquecera e dava lugar a uma noite que começava a ficar levemente fria.

Exausto, o mago chegou ao lugar onde a jovem dama se encontrava e ao se verem, os dois mal podiam acreditar que haviam se reencontrado. Se abraçaram e sorriram, mas as feridas de Rumorcritiquin ainda doíam e levaria um bom tempo até que eles pudessem ser "felizes para sempre".

O mago sumiu logo em seguida. Não foi embora, dizem por aí que ele construiu uma arma superpoderosa contra todos os duendes, monstros e outras coisas que insistem em machucar as pessoas nos lugares em que deveriam ser curadas. Diz a lenda que essa arma se chama Beher Epeh, mas isso já é outra história.

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Conto baseado numa história real. Com conceitos emprestados de Shrek, Nárnia, Senhor dos Aneis e Harry Potter.

Juliano G. Leal
MARP/MRM

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