Halloween, um feriado "cristão". - Parte III - Final

Depois de estudarmos um pouquinho sobre as origens do sincretismo ocidental, chegamos aos dias atuais onde vamos poder reconhecer seus efeitos nas supostas igrejas cristãs, onde a comemoração do Halloween faz mais sentido do que eles gostariam que fizesse.

Leia a Parte I aqui. Leu a primeira e perdeu a segunda? Ela está aqui.

A forma mais explícita do sincretismo não aparece na doutrina ou no formalismo das instituições. Aparece no comportamento das pessoas. Comportamento que se reforça quando tem anuência das instituições, seja de forma ativa, induzida por dogmas e leis eclesiásticas, ritos, "milagres", "história" ou de forma passiva, quando a crença se espalha no meio do povo e a igreja não diz nada, não se posiciona, não se importa, por não haver real interesse em que as coisas não sejam dessa forma.

E provavelmente a demonstração mais contundente do comportamento sincretista sejam as relíquias.

Coisas realmente bizarras começaram a ser colecionadas pelos católicos na Idade das Trevas, e o mal costume contaminou (ou nunca abandonou) os protestantes que a priori queriam se purificar justamente disso.

Relíquia (Múmia Sagrada)

Com o desenvolvimento do Capitalismo moderno, a Revolução Industrial e o estabelecimento da economia de mercado como a conhecemos hoje, alguns costumes religiosos foram obviamente ganhando contornos comerciais. O Ocidente encontrou no nicho religioso um amplo ambiente a ser explorado economicamente.

Pode parecer redundante mencionar isso, uma vez que já era essa a ideia impregnada nas indulgências, mas existem umas diferenças cruciais e enormes. Aquele conceito se tornaria pífio, risível, comparado ao que temos hoje. Marketing, mídia publicitária de massa, hiperconectividade e globalização.

A venda de relíquias é mais velha que andar à pé. Entretanto, a venda sistemática, produzida em escala industrial, com marca própria e anúncios veiculados nos principais meios de comunicação é algo bem recente. E posto nesses moldes pelos evangélicos. O que causou uma piada histórica, uma vez que estes superaram os católicos nessa prática, que hoje inclusive, já copiam os hereges em sua bem sucedida carreira empresarial.

Rosa Milagrosa
Num mundo onde se tornou comum e se aceita como normal e correta a compra de badulaques que prometem milagres e curas, seria difícil perpetrar uma festa cheia de figuras e amuletos, lendas e artefatos pitorescos? Certamente que não, e aí estão a páscoa e o natal para nos provar isso. Duas festas comemoradas por católicos e protestantes com TODOS os elementos pagãos roubados através do sincretismo.

Festas estas que se tornaram tão populares e tão misturadas, que hoje os pagãos legítimos precisam explicar para seus praticantes quais elementos não são cristãos, pois os neófitos já estão completamente confusos entre o que é originalmente pagão e o que é invenção ou mistura "cristã". Não me surpreendi nem um pouco durante a minha pesquisa ao encontrar muitos sites de Paganismo, Neo-paganismo, Wicca e Druidismo pregando "resgate de raízes", e argumentando que é necessário expurgar as influências medievais "cristãs" para terem uma fé mais autêntica e original. Mais uma vez encontrei um ponto em comum entre as atitudes de caráter de pessoas pagãs e a minha: lutamos em lados opostos contra o mesmo inimigo, um certo espírito maligno que poluiu e misturou nossas crenças.

Certas práticas comuns nas festas "cristãs" são desaprovadas tanto por Pagãos, quanto por Cristãos. E numa crença como a Wicca que prega que tudo que eu fizer vai voltar triplicado, praticar comércio de fé com lucros abusivos não parece ser uma boa ideia. E para Cristãos que praticam Mateus 7:12, idem.

Contudo, é o que mais se observa. O primeiro aspecto a aparecer nas festas mencionadas é o comércio. Coelhos e ovos, árvores e guirlandas, muita comida, mas muita mesmo, e todo o tipo de presentes hoje são o centro dessas festas. Porque uma pessoa normal se sentiria mal em celebrar o Halloween, se ela não vê diferença nenhuma entre essa e as outras festas!?!?

E porque elas sentiriam medo ou teriam repulsa a uma festa onde se comem doces e se usam fantasias, quando se faz isso em São João? Se pulam carnaval? Se pintam coelhinhos na cara e se vestem de Papai Noel? Engula essa sua frase de "não é a mesma coisa". É a mesmíssima coisa.

Doces de festas religiosas
Fora o pior fato, que é onde eu realmente queria chegar, porque as pessoas vão sentir medo ou repulsa do Halloween, quando as igrejas tem múmias embalsamadas em caixões de vidro para serem adoradas nos seus altares? Porque precisam se prevenir do bizarro quando fazem fila para comprar pedaços de roupa de santos mortos ou toalhas com suor de santos vivos? Porque elas vão ter nojo do sangue dos filmes de terror e dos zumbis comedores de gente, ou dos vampiros, quando os padres pregam todos os domingos um ato de canibalismo, inclusive tendo um pedaço verdadeiro de hóstia transformado em carne como uma de suas principais relíquias?

Porque as pessoas vão ter medo dos loucos assassinos ou dos possessos se elas veem eles o tempo todo nos cultos?

Porque as pessoas vão ter vergonha de usar mascaras para pedir doces chantageando com travessuras quem não quiser dar, se elas se atrevem a fazer isso com o deus delas todos os dias na igreja, determinando o que esse deus tem obrigação de fazer em troca dos "sacrifícios" que eles oferecem?

Porque as pessoas terão vergonha de por abóboras e espantalhos em casa se eles já poem as árvores de natal, mas não só isso, estátuas, velas, placas, pratos, rosas ungidas, ampolas de água abençoada, sal espanta capeta, óleo de Israel, pedrinhas do rio Jordão e uma lista que não acaba mais.

É de uma hipocrisia monstruosa o comportamento das igrejas, principalmente as brasileiras, que fazem campanhas maciças de combate a heresias, mas são permissivas em coisas muito piores que as que combatem!

Chega um momento em que precisamos rever drasticamente o nosso comportamento, pois estamos diante de uma situação que nos exige um posicionamento sob pena de sermos tachados como a fé mais obtusa e hipócrita de todos os tempos. E já somos tachados! Muitos de nossos "líderes" são constantemente ridicularizados por ateus por defenderem essa hipocrisia que rendeu três postagens com unhas e dentes!

Já falei muitas vezes aqui no blog sobre esse tipo de comportamento incoerente, cada uma delas sob um viés diferente, na tentativa de provocar a inteligência das pessoas. Sempre tenho a esperança de que as pessoas leiam e reflitam; ponderem, pensem de outra maneira. Não do meu jeito, ácido e crítico, mas apenas pensem!

É triste perceber que a maior relíquia que temos hoje nas igrejas é a falsa ideia de que nada pode ser questionado, sob pena de irmos para o "inferno". Somos ameaçados constantemente pelo castigo "divino" se nos levantarmos como os reformadores denunciando as mazelas do "reino de deus".

Ainda hoje, somos queimados nas fogueiras como rebeldes e insatisfeitos por denunciarmos as barbaridades perpetradas por "pastores que a si mesmos se apascentam, ondas bravias espumando sua própria sujeira" como bem nos advertiu Judá.

Assim como acredito que jamais veremos o dia em que esses lideres e suas instituições virão a público para confessar seus pecados e mudar suas posições (exceto se for de joelhos diante do Cordeiro assentado no trono como juiz), também creio que se cada um de nós quiser mudar pouco a pouco dentro de nossas casas essa realidade, ainda teremos uma chance de, se não alcançarmos outros, pelo menos sermos autênticos naquilo que pregamos e dizemos crer.

Temos as festas corretas e bíblicas para serem comemoradas, que foram deixadas pelo Senhor como estatuto perpétuo. É inadmissível que alguém que diz que ama esse Senhor não consiga obedecer algo que Ele ordenou mas consiga inventar desculpas para fazer o que Ele abomina. E não falo só da prática sincretista, pois acredito que a discriminação e perseguição com as outras crenças é de longe muito pior.

Jesus não faria isso.

Aliás, Ele condenava os erros de dentro, e ensinava as coisas corretas para os de fora. Quando reprovou o comportamento dos ímpios, todos concordavam com Ele, inclusive os não judeus, pois compreendiam que era simplesmente um fato. Era a verdade.

Que o Senhor nos dê graça e sabedoria para que possamos discernir e escolher pelo que é certo e não mais só pelo que é fácil.

Ou que nos conformemos com o lixo de uma vez por todas e nos próximos anos recebamos o Halloween sem reclamar como mais um feriado cristão, desejando aos pagãos sucesso com a limpeza deles...

Juliano G. Leal
MARP/MRM

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