Um tapinha não dói?
A chapa esquentou para os radicais neo-pentecostais depois da aprovação da "Lei Bernardo" e da cena vexatória protagonizada pelo "pastor" deputado diante da desgastada ex-rainha das manhãs oitentistas da TV.
Como se tal comportamento já não fosse suficiente pra desprestigiar e ferir ainda mais a imagem dos cristãos na mídia, ainda temos gente ignorante o suficiente para ficar defendendo a malfadada atitude do deputado.
Não discordo daqueles que vociferam que "ele disse apenas a verdade". De fato, ele não mentiu a respeito do filme, afinal de contas este existe e é detestado em boa parte do mundo. Críticos do Internet Movie DataBase (IMDB) chegam a sugerir que o filme deveria ser banido de seus países. Nunca vi o filme, e a julgar pelas críticas, pela nota baixa do IMDB e o tipo de "cinema" que se fazia no Brasil na época, deve ser realmente ridículo.
Também não discordo daqueles que defenderam a dona Maria Meneghel por tentar apagar essa mancha do seu currículo, o que pra mim é mais uma prova de que o filme é ruim mesmo. Talvez a inserção dela no mundo infantil posteriormente, fosse uma busca por uma cura catártica, fazendo o oposto do filme pra tentar se livrar do monstro no armário. Não que eu ache isso bom, correto ou bonito. São conjeturas possíveis, afinal estamos tratando de um ser humano, cheio de defeitos, medos e bagunças pessoais como qualquer um de nós. E se ela realmente se arrependeu? A gospelândia não é o paraíso dos ex-alguma coisa? É só ser "ex" que ganha o púlpito pra "dar tistimunhu". Vamos lá, demonstrem compaixão por ela...
Maria Meneghel |
Compreendo que uma reunião da Câmara não é o ambiente mais organizado e comportado do mundo. Infelizmente. Mesmo assim, não acho os adjetivos e o tom usados pelo deputado contra dona Maria Meneghel apropriados. Nem à sua função de deputado, nem à sua premissa de pastor. Posso fazer uma lista gigantesca de pastores que tem a mesma opinião e jamais se dirigiriam a qualquer pessoa naquele tom ofensivo e exaltado.
Mas essa sanha revoltosa, esse ímpeto violento, essa fúria desmedida é comum entre certos "pastores", entre certos "crentes". As aspas são porque ainda não achei uma palavra adequada para me referir ao radicalismo dessa corrente que tem infectado o cristianismo. Se acham donos da verdade e são sempre as maiores vítimas do sistema. Não os chamo mais de xiitas como muitos ainda fazem, que é pra não ofendermos os xiitas!
Enquanto milhares de cristãos estão trabalhando pelo bem comum, sendo bem recebidos em suas comunidades, visitando doentes nos hospitais, construindo casas para ajudar membros pobres, repartindo comida, roupa, brinquedos, fazendo permuta de mão de obra, plantando árvores, doando livros, instrumentos musicais e tecnologia pra quem não tem e muito, muito mais, eles estão chafurdando na política e enriquecendo às custas das pessoas.
Não existe nas igrejas dessa linha um verdadeiro interesse pelo desenvolvimento humano. A doutrina sensacionalista que vende pedacinhos do céu e que promete o céu na terra através de barganhas, não dá a mínima para o que realmente acontece com as pessoas. Os problemas são sempre culpa da falta de fé de quem ora ou culpa do diabo. A palavra responsabilidade foi riscada de seus vocabulários. Ninguém assume nada.
As famílias brasileiras, cuja cultura já é de dar jeitinho ao invés de prevenir problemas, embarca nessa canoa furada e tenta resolver sua vida nesses templos erguidos ao orgulho de ser ignorante, pra dar um jeitinho "espiritual" na vida.
A grande maioria desses "crentes" que se indignaram com a presença de dona Maria na CCJ, assistem as novelas da Globo ou as suas irmãs gêmeas na TV do bispo. Menos sábado. Sábado é o dia de assistir a SuperNanny e falar mal das pobres famílias desestruturadas que a educadora cristã vai socorrer.
Aí, o mesmo "crente" que elogia a eficácia do método crispólico, a paz e a alegria trazidos pela disciplina supernânica, vão vociferar na internet que "agora eu não posso mais disciplinar meu filho", "eu apanhei de cabo de vassoura e tudo bem", "quem não apanha em casa do pai, vai apanhar da polícia na rua". Tirinho no pé, a coerência passa longe!
Tão fazendo doutrina em cima de experiência pessoal agora? Agora porque uma lei arrocha contra um assunto que é uma paixão evangélica, a coisa tá ruim? Elogia a SuperNanny agora preguiçoso! Vai praticar o que ela ensina!
Esse tipo de gente lembra rapidinho do versículo da vara, mas lembrar dos que dizem pra ensinar com tempo, dedicação, amor, paciência e exemplo, necas! Vamos aplicar Mateus 7:12 aqui com os filhos também ou não? Você gostaria de levar um tapa? A resposta será sempre não. Quem disser o contrário é demagogo e está se auto-enganando ou é masoquista e precisa de um psiquiatra!
Senão, vejamos. Essa postagem pode ser sentida por essas pessoas como um tapa. Uma marretada psicológica. A adrenalina vai subir, eles vão pensar em milhões de desaforos e justificativas pra comentar e tudo por quê? Porque não gostaram da pancada!
Será que José e Maria precisaram bater em Jesus Cristo para educá-lo? Ou eles simplesmente obedeceram a Torah que ordena dar tempo para os filhos? A maioria dos pais que batem, gritam e maltratam, também terceirizam a educação dos filhos do mesmo jeito que criticaram dona Maria Meneghel por fazê-lo. A "cria" fica o dia inteiro longe dos pais e quando volta pra casa nem conhece aquelas pessoas. Daqui já viria o argumento que as realidades não se comparam, que as pessoas pobres não tem como cuidar, bla, bla, bla.
Não tem como cuidar? Usa camisinha. Antes de exigir creche, pare de fazer filhos! Não quer cuidar mesmo? Faça um favor a criança e doe para uma família estéril que queira dar tempo pra ela.
Aí talvez citem pra mim o conto que escrevi quando a lei entrou em tramitação e eu critiquei a mesma. Mantenho minha posição. Minha crítica continua sendo contra a interferência do estado em assuntos que não são de sua alçada. Mas também percebo que muitas pessoas tão indo de roldão no bonde neo-pentecostal, sem perceber que a hora da verdeira igreja de Jesus agir já passou! Estamos atrasados. Se algo aí realmente incomoda, as ações que deveriam ter sido tomadas já deviam ter acontecido há anos.
Fazer esse fiasco todo não ajuda ninguém e reduz as possibilidades a: chorar o leite derramado ou gastar pólvora em chimango!
Vamos ainda mais fundo. Quanto custa um programa de TV? Quanto custa um jato particular? Quanto custa um canal de TV? Quanto custa uma mansão em Miami? Quanto custa pra operar uma concessão de TV a cabo?
Apenas para um exercício: Um suntuoso templo que está sendo terminado em São Paulo, vai custar, segundo estimativas modestas divulgadas publicamente, cerca de R$ 400 milhões. Uma escola de Ensino Médio custa em média R$ 4 milhões (valor aproximado calculado com dados do UNICEF).
Faça você as contas e veja quais são as prioridades dessa gente! Depois reclamam que o governo quer por isso e aquilo nas escolas. Pois então façam escolas e decidam o que vai ter nelas! O governo não vai fazer nada por nós. O Brasil é um barco à deriva com cada um por si. Nossas instituições estão falindo uma por uma. A igreja inclusive.
Os católicos, metodistas, batistas, luteranos, adventistas, judeus, islâmicos e recentemente até budistas tem construído e equipado escolas. Infelizmente que eu saiba só a budista é gratuita. Ou seja, cristãos em geral não estão colocando a educação formal, nem a educação em si, na linha de frente. Exceto pra quem pode pagar.
Quando os templos e as doutrinas são mais importantes que as pessoas, temos os resultados que estamos presenciando. Gente incompetente que se acha grande coisa sendo motivo de chacota e escárnio da população. Dos dois lados. Aquela sessão da CCJ se tornou um circo. E só! Só mais um espetáculo debaixo dessa grande lona verde-amarela.
Então o que tu sugere? Que a gente se entregue? Deixe tudo acontecer, deixe a coisa degringolar de vez?
De modo algum. Já disse isso aqui e vou repetir até morrer. A mudança começa em nós. Mas não é com muito alarde e pelos meios convencionais. É praticando a Palavra ao nosso redor, crendo nas promessas que Jesus fez de estar sempre conosco, crendo na orientação do seu Espírito pra nos guiar ao fazermos aquelas coisas que enumerei lá em cima e que tem sido negligenciadas pela neo-igreja cheia de vento.
Não é um tempo agradável de se estar vivendo. Mas estamos aqui. E podemos ser melhores do que a palhaçada que estamos presenciando que fica de tapinha em tapinha, tapeando os ignorantes que tapam o sol com a peneira.
Se os políticos estão na igreja e os "pastores" no governo, e todos estão na mídia, deduzo que sejam um e o mesmo.
Nós somos um com Cristo, não com eles. E em Cristo temos paz e segurança. Nele está nossa esperança. E Dele vem nossa vitória. Sempre. Posicione-se por Cristo e somente por Ele.
Juliano G. Leal
MARP
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